Muitas vezes, em nossa trajetória profissional, precisamos lidar com a possibilidade da transição de carreira. Nem sempre…
Calma, nem tudo dá pra fazer!
Estou há alguns anos trabalhando na área de desenvolvimento de software no modelo de fábrica de software e SaaS (Software as a Service) em diferentes empresas. Nesse período me deparei com diferentes perfis de projetos.
Já vi projetos com recursos financeiros limitados em que o cliente negocia cada centavo faturado, e com recursos financeiros que o cliente “não tem dó” de investir.
Projetos com prazos que “é tudo pra ontem”, e com prazos folgados. Outros que temos recursos divididos e aqueles que temos disponibilidade fulltime.
E é claro, todas as possíveis variações entre verba, tempo e recursos que vocês possam imaginar… Cada um deles é uma história completamente diferente.
Em um dos últimos projetos que trabalhei, o qual foi extremamente desafiador. Refleti sobre um ponto importante que muitas vezes me pegava fazendo, porém não percebia o quão necessário é entender o famoso “momento do projeto”.
Agora você pode ouvir esse artigo! Aproveite o player abaixo para conferir a leitura do conteúdo:
O desafio do prazo
Neste projeto tivemos que redesenvolver todos os cinco sistemas da operação inteira de uma empresa multinacional em um prazo de cerca de 4 meses. Parece impossível, eu sei!
Fui um dos responsáveis por iniciar o projeto indo ao cliente e levantando o escopo dos projetos e as ações necessárias que seriam conduzidas pelo gerente posteriormente.
Nessas reuniões, eu e o outro analista que estava comigo, deixamos muito claro ao diretor de tecnologia (que tinha entrado na empresa para tocar este projeto e nunca tinha tido contato com o sistema) a complexidade da tarefa e nossas sugestões para trabalhar com estas condições.
Avaliamos juntos que apesar de parecer impossível, falando pra quem não conhece, dá pra fazer por uma junção de fatores e com a equipe envolvida que tínhamos.
Em uma de nossas conversas entre as pausas das reuniões, falei que trabalho com UX, expliquei a importância de entrevistar, validar a ideia, testar com o cliente, enfim, todo o trabalho que um profissional de UX deve saber (quem só faz protótipo não é UX *cof *cof).
O cliente amou! Falou “é isso que precisamos! Após fazermos todo esse mapeamento do sistema vamos começar a entrevistar os clientes porque são eles quem irão usar e sabem exatamente o que precisam porque trabalham com isso o dia todo e aí quando a gente fizer o protótipo testamos as versões com o cliente e assim eles vão ter certeza que é a melhor forma para se fazer o trabalho” e zaz e zaz e zaz (sem vírgulas ou pausas para respirar).
Calma, respira…
É esse o cliente que eu quero! O cara que vê valor no meu trabalho e entendeu que o trabalho de UX não é fazer uma tela bonitinha!”. Legal, mas calma lá!
Lembre antes que é um projeto para redesenvolver todos os cinco sistemas core de uma empresa multinacional em um prazo de cerca de 4 meses!
Em qual momento que eu vou fazer isso? Com qual tempo? Levando em conta o tamanho do projeto, no momento que eu terminasse de montar a estratégia de UX, apresentar e receber a aprovação para começar o trabalho, já teríamos perdido um tempo valioso!
Quando eu terminasse meu trabalho ou quando alguns de meus entregáveis fossem suficientes para outras equipes iniciarem seus trabalhos, aquela luz no fim do túnel que vimos anteriormente (que era minúscula), já estaria morta e estaríamos no buraco!
Decidimos então, com o gestor do projeto e o diretor da empresa que nos contratou, que o trabalho é importante, porém vamos fazer todo o trabalho de UX depois que realizarmos a entrega desta primeira fase do projeto que temos.
Deixamos claro o impacto financeiro que existe na execução posterior, porém foram alinhadas às expectativas quanto ao momento de execução destas atividades e conseguimos seguir com o planejamento do projeto normalmente.
Então fiquei refletindo bastante sobre os projetos que já havia participado ou vendo outras equipes em outros contextos e como eles agiram… O pessoal reclamando que não enxergam valor no trabalho deles, porque não veem a importância disso e daquilo, que pulam esse processo, que os diretores/gestores são burros porque não enxergam os benefícios do que eu faço… e tudo o que vocês já devem ter ouvido pelos cantos de suas empresas.
Precisamos parar e refletir
Realmente agora é a melhor hora de fazer isso? Algumas vezes a ideia é maravilhosa para o projeto, mas agora não dá!
O cliente tem recurso financeiro para investir nisso? Algumas vezes o cliente vê valor, mas não tem recurso para investir!
E não necessariamente ele está errado em não colocar dinheiro nisso agora.
O cliente viu necessidade nisso? Algumas vezes o cliente não vê necessidade, seja qualquer o motivo (até mesmo a cabeça dura e tradicional dele). Você vai fazer o que? Abdicar de uma conta milionária que vai gerar lucros para a empresa por isso? Chorar no canto? Tem hora que não dá pra recusar!
O seu trabalho vai reduzir custos do projeto ou promover novas fontes de renda para o cliente? Se a resposta for “NÃO“, então desculpe, mas não serve de nada.
Não querendo ser hipócrita, eu era o cara que fazia muito isso! Quando refleti sobre esses pontos e como eu me via e via algumas pessoas da equipe agindo (em diferentes áreas de conhecimento) parei pra pensar que algumas vezes não é maldade da empresa. Só realmente não dá!
Concluindo
Não se frustre! Se você realmente vê valor em um novo processo que pode ser feito, exponha à diretoria, exponha ao cliente!
Mostre de verdade que você tem conhecimento no que está falando e como isso vai impactar o projeto de forma positiva.
E se você receber um “Legal! Mas agora não dá!” Fique feliz! Já é um bom caminho.
Sobre o autor
André Mommensohn trabalha há quase 6 anos na área de tecnologia e como principais atividades realiza análise de projetos mobile, web e desde o último ano vem focando na área de UX.
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